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Jovem piauiense com doença neurodegenerativa supera limites com o fisiculturismo

Luis Gustavo superou a depressão e hoje inspira milhares com sua história de força e coragem

A trajetória do piauiense Luis Gustavo Sales, conhecido nas redes sociais como Luisão Maromba, é uma daquelas histórias que ultrapassam o esporte. Diagnosticado ainda na adolescência com Ataxia de Friedreich, uma doença neurodegenerativa rara, progressiva e sem cura, ele encontrou na musculação e no fisiculturismo uma forma de lutar contra as limitações físicas impostas pela condição e, principalmente, contra a depressão.


Luisão Maromba

Aos 15 anos, Luisão começou a perceber mudanças em seu corpo. Os movimentos estavam descoordenados, e a dificuldade em realizar tarefas básicas crescia a cada dia. “Eu só sentia meu corpo estranho e as pessoas tinham um certo preconceito. Ninguém sabia o que eu tinha e achavam que era efeito de drogas. Por causa disso, eu tinha vergonha de aparecer em público”, relembra o atleta. Foi apenas dois anos depois que veio o diagnóstico: ataxia de Friedreich.

Antes disso, a vida de Luisão se resumia ao computador. “Passava o dia jogando, como um refúgio”, conta. Nesse período, ele enfrentou depressão profunda e chegou a ter pensamentos suicidas. O ponto de virada veio quando ele percebeu que estava fisicamente debilitado a ponto de não conseguir mais caminhar dentro de casa. Foi aí que resolveu procurar uma academia, com o objetivo inicial de melhorar sua mobilidade.

Foto: Aric LagesLuisão Maromba em entrevista ao Conecta Piauí

O início no esporte e a guinada inesperada

O primeiro contato com os pesos não foi motivado por vaidade ou ambição atlética, mas por sobrevivência. Com o tempo, no entanto, Luisão começou a se interessar pelos bastidores do fisiculturismo, assistindo a vídeos na internet e compartilhando sua própria rotina de treinos. A inspiração definitiva surgiu quando conheceu atletas com deficiência que competiam na modalidade.

“Eu vi um cara com deficiência subindo no palco sem vergonha, superando tudo. Pensei: ‘Quero ser assim’”, relata. Após uma queda que o deixou temporariamente dependente de cadeira de rodas, decidiu que precisava se reerguer e o fisiculturismo passou a ser mais do que um objetivo: tornou-se missão de vida.

Foto: Aric LagesLuisão e Rhoney Carvalho, que o ajudou (e ajuda) desde o início de sua jornada na musculação
Luisão e Rhoney Carvalho, que o ajudou (e ajuda) desde o início de sua jornada na musculação

Competição, queda e superação

A primeira competição veio em Campinas, São Paulo, e representou um marco. Sem companhia ou estrutura, Luisão viajou sozinho, se inscreveu e enfrentou o palco pela primeira vez. A estreia, no entanto, não saiu como o esperado. Nervoso, mal preparado e fisicamente fraco, acabou caindo durante a apresentação. “Na hora que eu caí, lembrei de tudo que já tinha passado. Me levantei sozinho e continuei”, conta. O público aplaudiu, e, apesar do tropeço, aquele momento acendeu algo ainda maior.

Foto: Arquivo PessoalMomento em que Luisão cai, durante sua primeira competição
Momento em que Luisão cai, durante sua primeira competição

A segunda competição veio semanas depois, resultado de uma preparação intensa. Luisão reduziu a alimentação, intensificou os treinos e se dedicou ao máximo. O esforço deu frutos: dessa vez, subiu ao palco com firmeza, finalizou sua apresentação e voltou para casa com medalha e troféu. “Passei por um processo rigoroso, mas consegui entregar meu melhor”, diz.

Reconhecimento e impacto social

As conquistas de Luisão vão além das premiações. Por meio das redes sociais, ele vem motivando outras pessoas com deficiência física e transtornos mentais. “Quero ser uma inspiração para quem acha que não pode, para quem tem medo. Eu já pensei que seria impossível, mas estou aqui. E ver outras pessoas se inspirando em mim me deixa mais feliz do que qualquer troféu”, afirma.

Foto: Aric LagesLuisão e sua mãe, dona Lindalva da Cruz
Luisão e sua mãe, dona Lindalva da Cruz

A mãe do atleta, Lindalva da Cruz, é testemunha diária dessa luta. “É muita dedicação. A gente vê o esforço, o sacrifício, e não tem como não apoiar. Muitos, na condição dele, estão acamados ou na cadeira de rodas. E ele está lá, de pé, focado, lutando. Isso é superação de verdade”, destaca. Segundo ela, a história do filho tem motivado centenas de seguidores. “Tem gente que diz que saiu da depressão assistindo aos vídeos dele. Isso emociona muito”.

Planos para o futuro

Luisão tem planos de crescer ainda mais nas redes sociais e usar sua visibilidade para desenvolver projetos voltados à inclusão e valorização da vida. Pretende também participar de palestras, dividir sua história com outras pessoas e incentivar mais atletas com deficiência a entrarem no esporte. “Não quero ser o único lá. Quero ver mais pessoas como eu subindo no palco, acreditando que podem, porque podem mesmo”.

Foto: Aric LagesLuis Gustavo Sales - Luisão Maromba
Luis Gustavo Sales - Luisão Maromba

Hoje, o jovem que antes tinha vergonha de sair de casa é referência de força, determinação e resistência. E mesmo convivendo com uma doença que avança dia após dia, ele continua de pé, encarando a vida com músculos firmes e propósito ainda mais forte.

Assista a entrevista completa em vídeo:

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