Centro de Teresina em ascensão: a Cultura como forma de ocupação
Bares e eventos movimentam e ajudam a revitalizar o Centro da capital com música e diversidadeEm diversas capitais do Brasil, é comum que centros urbanos e comerciais transformem-se em centros culturais ao cair da noite. Porém, Teresina era uma cidade que há muito não apresentava essa movimentação. A falta de iniciativas privadas, somada à ausência de interesse do poder público municipal, fez com que o Centro da capital piauiense se esvaziasse cada vez mais. Contudo, essa realidade vem mudando nos últimos meses de 2025, com a ocupação por meio de bares, casas de shows, centros culturais e eventos.

A Rua Lisandro Nogueira tem se destacado nessa nova fase do bairro. Os bares Casa Barro e, mais recentemente, Seu Javas lotam a rua, transformando-a em um verdadeiro corredor cultural. Anteriormente, a antiga "Rua da Glória" também foi sede do Stouradas e do Centro Cultural do Centro (CCC), que mudou seu endereço para a Rua Desembargador Freitas, ainda nas redondezas.
O retorno do Samba no Coreto, na Praça Pedro II, e do projeto Boca da Noite, no Clube dos Diários, ambos em 2025, também fomentam a ocupação do Centro. Para além de um movimento que ocorre somente às sextas ou sábados, os dois eventos acontecem em plena quarta-feira, com grande adesão do público teresinense.
E o que esse tipo de movimentação proporciona? Para os artistas piauienses, uma vitrine de valorização e novas oportunidades. Para o público, novas opções de lazer e a chance de estar em contato com a arte e a cultura em locais fora da zona Leste, região que concentra a maior parte das casas de shows da cidade. Para o próprio Centro da cidade, representa um recomeço.
Vavá Ribeiro, músico renomado no estado, vê essa agitação com bons olhos, mas faz o lembrete de que o poder público deve contribuir para essa movimentação. "Se a gente quer revitalizar o Centro, é necessário que haja políticas públicas para que as iniciativas particulares possam contribuir juntamente, com parcerias", diz.

Lari Fontinele é artista autoral e, em 2025, lançou seu primeiro EP. Recentemente, ela apresentou seu trabalho no Seu Javas e elogia a iniciativa. "A gente que é do autoral sempre busca um espaço para mostrar e divulgar nosso trabalho, que é feito com tanto suor e esforço. A galera está vindo e comparecendo, além de achar muito legal estar no Centro", conta.

O arquiteto e urbanista Kairon Sampaio ressalta a importância de os centros urbanos funcionarem como redutos culturais para as cidades, e afirma que isso também se reflete em Teresina. "Como arquiteto, uma coisa que sempre defendemos é a revitalização dos nossos centros urbanos, que, durante o dia, são comércios, e à noite se fecham. Movimentos como a Casa Barro, o Javas, a festa Ardente, que valoriza os patrimônios públicos da cidade, geram uma valorização e um senso de pertencimento que a cidade precisa ter para preservarmos nossas histórias e vivências", explica.

Na Lisandro Nogueira, a iniciativa atraiu pequenos comerciantes, que viram ali uma oportunidade de empreender com a venda de bebidas e lanches. É o caso de Saul Melo, que, há menos de um mês, visitou o local pela primeira vez e percebeu que ali poderia prosperar. "Na primeira vez que vim aqui, vi a oportunidade de vender o 'copão'. Estava passando por problemas financeiros e, quando passamos por isso, a gente deve meter a cara na rua. Onde há movimento de pessoas, há dinheiro", relata o empreendedor.

A ocupação da capital através da cultura, arte e da arte é muito mais do que apenas lazer. É um organismo vivo que se cria e se expande. Um movimento em cadeia onde artistas, empreendedores e público se encontram e transformam a realidado ao redor.