Avô assume netas após morte da filha atropelada por carro de Lokinho
Com apenas com renda da aposentadoria do avô, família luta para cuidar de criançasO avô Francisco carrega no peito a dor de uma perda irreparável. Sua filha, Kassandra, foi atropelada e morta enquanto atravessava uma avenida, em um carro conduzido por Brizaac, que estava acompanhado do namorado, o influenciador Lokinho no dia 6 de outubro de 2024. No mesmo episódio, as duas filhas de Kassandra ficaram gravemente feridas e a amiga dela, Marlly, também morreu. Hoje, Francisco assumiu a guarda legal das netas e tenta reconstruir a vida da família com amor e esperança.

“Agora a responsabilidade é toda minha e da minha esposa”, conta ele, com a voz embargada. Antes do acidente, sua filha era o sustento da família. Após o falecimento, Francisco se tornou o pilar dos cuidados diários, dividindo-se entre o trabalho e as necessidades urgentes das netas: Maria Alice, 3 de anos e Maria Suelly, 12 anos.
As duas enfrentam sequelas profundas: uma garota sofreu traumatismo craniano e precisou permanecer desacordada por mais de dois meses na UTI; a outra sofreu quedas, enjoos e crises noturnas. Francisco descreve as mudanças que acometeram suas rotinas: “Tivemos de adaptar a casa, buscar fisioterapia, sessões com fonoaudióloga e acompanhamento médico constante”.

“Ela levou uma pancada forte na cabeça. À noite, ela acorda assustada, às vezes grita. Estamos correndo atrás de tomografia, avaliação neurológica e tantos remédios…” Enquanto isso, a outra neta já se recupera melhor, mas ainda apresenta sintomas como tremores e pesadelos, vestígios de um trauma que não cicatriza facilmente.
Francisco chegou a receber em dezembro 1000 da justiça e 1000 reais do Stanley, conhecido como Brizaac, que chegou a fazer uma vaquinha para ajudar a família. Mas, conta ele, “a gente sobrevive mesmo é com o pouco que a gente consegue, porque lá em casa só entra minha renda”. Sua esposa, com 65 anos, sofre de condições de saúde que demandam remédios caros, descontando ainda mais na escassa economia familiar.
O avô, com lágrimas contidas, ainda busca justiça pelo que aconteceu: “A mãe delas se foi, e quem cometeu esse crime... parece que está solto, jogando a responsabilidade pra lá. Se não houver uma resposta da Justiça, a nossa decepção só aumenta”.
Mesmo assim, Francisco mantém um fio de esperança. Ele diz que está aberto a ajuda, que seja depósito, cesta básica ou remédios, porque as meninas precisam continuar o tratamento. Ele espera retomar suas atividades, tirar a esposa da fila de espera por aposentadoria e, principalmente, garantir um futuro minimamente tranquilo para as netas.

“Eu ainda durmo com remédio, pensando nela. Minha filha sempre dizia ‘pai, eu vou te ajudar um dia’. E fica essa esperança de justiça e de reconstrução, por mim e por elas”, desabafa Francisco, com voz firme e o olhar cheio de saudade.
Apesar do sofrimento, Francisco mantém firme o desejo de que a Justiça cumpra seu papel: “Se não houver justiça... que país é esse? Eu ainda acredito que vai vir justiça, pelo meu nome, mas, sobretudo, por elas.”
O QUE DIZ O ADVOGADO DA FAMÍLIA?
O advogado da família, Josélio Sálvio Oliveira, que acompanha tanto a ação criminal quanto o processo de indenização, explica que a situação ainda é indefinida.
“Hoje temos dois processos em andamento contra Pedro Lopes (Lokinho) e Stanlley (Brizaac). No processo criminal, o Ministério Público recorreu da decisão que desclassificou o crime de homicídio doloso para culposo. Isso fez com que o caso fosse remetido à vara de trânsito, mas agora o recurso está nas mãos do Tribunal de Justiça, que vai decidir se o julgamento será feito pela Vara do Júri ou pela Vara de Delitos de Trânsito”, esclarece o advogado.
Além disso, há um processo indenizatório em curso, referente à pensão para as netas. Os acusados chegaram a pagar o valor determinado pela Justiça, mas há atrasos. “Vamos entrar com a execução dessas parcelas em aberto. Nenhum dos dois processos teve sentença final. Um está em grau de recurso e o outro, aguardando julgamento”, conclui.
Enquanto aguarda respostas do Judiciário, Francisco se mantém de pé pelo amor às netas. “Se não houver justiça... que país é esse? Eu ainda acredito. Por mim, pelo nome da minha filha, mas principalmente por elas".
Entenda o caso
Duas mulheres morreram e duas crianças ficaram feridas após serem atropeladas na noite do dia 6 de outubro, na BR-316, próximo ao bairro Santo Antônio, em Teresina. O acidente provocou revolta entre moradores da região, que tentaram agredir os ocupantes do carro. Durante a confusão, um homem foi baleado e morreu no local.

Segundo testemunhas, as vítimas identificadas como Marly Ribeiro da Silva, Kassandra e duas crianças de 2 e 11 anos caminhavam pela lateral da rodovia quando foram atingidas. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que o carro seguia no sentido Teresina–Demerval Lobão, pela via marginal, no momento do atropelamento.
