Conecta Piauí

Notícias

Colunas e Blogs

Blogs dos Municípios

Outros Canais

Especial Conecta

As pautas especiais são reportagens que vão além da cobertura do dia a dia, trazendo aprofundamento, contextualização e um olhar diferenciado sobre temas relevantes

A força de Maria: mãe que empreende sonhos e transforma a realidade ao seu redor

Com raízes na roça, ela semeou empreendedorismo feminino e colheu uma família de vencedores

Hoje os passos são mais lentos, mas a memória de dona Maria da Silva Conceição, com seus 78 anos, continua ávida. Ela tem uma fascinação por plantas e coleciona no seu terraço e quintal uma quantidade expressiva de espécies, com as quais se dedica diariamente, num cuidado realmente maternal. Este cuidado não é apenas um passatempo. Por muito tempo foi sua fonte de renda. Mãe de 12 filhos, fora os dois netos que criou, nem percebe o legado que concebeu: uma geração de empreendedores apaixonados.

Foto: Jhone Sousa / Conecta PiauíDona Maria e suas 'plantinhas'
Dona Maria e suas 'plantinhas'

EMPREENDEDORISMO E TRANFORMAÇÃO DE REALIDADES
A história de dona Maria com os negócios, mesmo que da forma mais informal, não é um fato isolado, o empreendedorismo feminino no Brasil atingiu um marco histórico em 2024, com 10,35 milhões de mulheres à frente de negócios, representando 34% do total de empreendedores do país, segundo o Relatório Técnico de Empreendedorismo Feminino do Sebrae.

Foto: Conecta PiauíDados do empreendedorismo feminino no Brasil
Dados do empreendedorismo feminino no Brasil

A retomada econômica após a pandemia impulsionou esse crescimento, consolidando a presença feminina no cenário empresarial. A faixa etária predominante entre as empreendedoras é a de 30 a 39 anos, mas chama atenção o avanço da participação de mulheres com 60 anos ou mais, que chegou a 12,5% no quarto trimestre de 2024. Entre tantas mulheres empreendedoras, estão mães e avós, que transformam a realidade ao seu redor e deixam uma herança de persistência, como a dona Maria e muitas outras.

Foto: Jhone Sousa / Conecta PiauíDona Maria
Dona Maria

UMA HISTÓRIA DE LUTAS E GLÓRIAS
Natural da zona rural do município de Barras, no Norte do Piauí, hoje ela mora em Teresina e se considera uma mulher feliz. Criada na roça, onde trabalhou boa parte da sua vida, passou por muitas etapas que a fizeram se reinventar.

“Hoje já estou uma senhorinha, já tenho meus 78 anos. Eu me considero muito feliz com minha família toda, filhos e netos. E eu ainda trabalho, eu não paro, eu continuo. Eu trabalho com plantinha, eu trabalho com tapete, muitas vezes eu tiro um tempo para costurar, para fazer alguma coisa, eu gosto de costurar, eu gosto de fazer uma roupinha, eu gosto de um bordadinho”, afirma contente com sua disposição.

Desde muito cedo, dona Maria teve uma grande conexão com a natureza, mesmo com o trabalho na roça, onde a subsistência tinha que conviver com os recursos naturais de forma harmônica. E foi neste contexto que ela obteve o sustento da sua família e guiou seus filhos.

Foto: Jhone Sousa / Conecta PiauíDona Maria e suas 'plantinhas'
Dona Maria e suas 'plantinhas'

“Deus me abençoou e vem abençoando. Na minha família são todos trabalhadores, todos são dono dos seus negócios, vivem todos muito bem, graças a Deus. Eu inspirei eles assim, aconselhando, mostrando como devia ser, como era que a gente fazia, como a gente podia viver. É assim, é ensinando, educando os filhos da gente, botando tudo para um caminho certo. E com esse caminho certo, eles todos me agradecem, todos os anos no Dia das Mães, eles me agradecem muito e dizem que eu sou uma mãe guerreira, eu sou o papai e sua mamãe ao mesmo tempo, porque criei todos com maior amor e carinho, ensinando”, completa.

Foto: Jhone Sousa / Conecta PiauíO cuidado de dona Maria com suas plantinhas
O cuidado de dona Maria com suas plantinhas

UMA NOVA REALIDADE
Apesar de origens no Piauí, foi no Maranhão que a família Conceição se constituiu. Todos foram criados na roça, com muitas dificuldades, mas em busca de oportunidades. A filha mais velha, Marta Lúcia, foi para Teresina, casou-se e começou a receber, um a um, os irmãos que também buscavam melhores condições na capital piauiense.

“Eu nasci numa família muito pobre, que vem da agricultura mesmo, limpando toco. Antigamente não tinha esse negócio de trator para limpar a terra para fazer nada. Quebrei muito coco babaçu para sobreviver, já era um empreendimento, para ajudar nas despesas de casa e não só do coco, mas também dos produtos que vinham da roça, a gente saía vendendo de porta em porta. Desde menina que eu trabalho vendendo de porta em porta para poder sobreviver”, revela Martinha, como é mais conhecida.

Foto: Jhone Sousa / Conecta PiauíMartinha, a filha mais velha da família Conceição
Martinha, a filha mais velha da família Conceição

Já em Teresina, os irmãos homens iniciavam na marcenaria, profissão do seu esposo, e as mulheres trabalhando como empregadas domésticas, com grande talento para culinária, outro grande forte da família. Com o passar do tempo, os irmãos se especializaram no setor moveleiro e hoje possuem empresas que atuam no Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e São Paulo.

“Eu me sinto muito grata por fazer parte dessa família, a qual eu tenho uma boa cooperação do andamento da vida de cada um dos meus irmãos. Não de todos, mas da maioria deles eu tive uma boa participação na vida deles para melhor. Graças a Deus cada um fez o seu empreendimento, andam com as próprias pernas. Eles ajudam também, empregam muita gente. Eu não fiz nenhum empreendimento na minha vida, mas por um bom tempo eu vivi vendendo bolo, fazendo bolo caseiro, além da horta, tinha o meu ponto onde eu podia trabalhar, fui sacoleira, com muito orgulho. Fiz cursos no Sebrae, eu tenho muito orgulho, não só dos meus irmãos, mas também dos meus filhos pelo fato de eu ter criado eles.  Continuo aqui na luta ainda pela vida trabalhando ainda de roça, voltei para a roça, é um empreendimento aqui que a gente faz, com criação de galinha, produção de verduras, legumes, tenho bastante canteiros, está muito bonito os meus canteiros. Mesmo aqui na roça eu continuo trabalhando, empreendendo. Pra mim é uma honra”, conclui.

Todos os filhos de dona Maria são empreendedores ou estão diretamente ligados aos negócios da família. Os ramos de atuação se diversificaram e as novas gerações de netos e bisnetos seguem a garra da matriarca.

O PODER DA QUALIFICAÇÃO
Domingas Ribeiro, a segunda filha de dona Maria, se especializou na culinária após anos atuando como empregada doméstica e a primeira a montar seu negócio. Foi na qualificação que ela buscou melhorar sua atuação. Formada em Gastronomia e especialista em confeitaria, lembra a trajetória de lutas e a inspiração na mãe.

“Minha mãe é uma guerreira. Só dela ter tido 12 filhos e estar ali lutando para esses meninos crescerem e serem filhos maravilhosos, é um orgulho, todos eles são ótimas pessoas que estão aí trabalhando lutando e minha mãe sempre vai ser um exemplo, mesmo que ela não tenha estudo, mas ela está sempre impulsionando os filhos. Ser empreendedor, nessa família, eu acredito que já vem dos nossos antepassados.  São pessoas que já vêm com essa guerra, com essa força de ser empreendedor”, diz Domingas.

Foto: ReproduçãoDomingas Ribeiro, abriu portas para famílias Conceição
Domingas Ribeiro, abriu portas para famílias Conceição

VIRADA DE CHAVE COM APOIO DE SEBRAE
Ainda jovem, recém-casada, Domingas deu o pontapé para o empreendedorismo na família. Além da bagagem que a vida lhe ofereceu, foi com qualificação que ela entrou no mundo no empreendedorismo e descobriu um serviço essencial para o seu sucesso: o Sebrae.

“Eu participava de palestras, de projetos, o Sebrae está ali, sempre dando cursos, palestras, informando as pessoas e é muito importante você fazer parte do mundo do Sebrae e ter conhecimento, ajuda a fazer uma gestão melhor do seu negócio, ele ajuda a ter uma visão melhor do seu do seu empreendimento. Como viver sociedade como empreendedor e não ter o Sebrae na vida? Você basicamente está por fora de tudo que tem de informação, porque só o Sebrae fornece esse apoio e pode fazer você alavancar melhor”, completa a empresária.

MULHERES NO COMANDO
O que começou como necessidade, se tornou um marco da jovem que sonhava em ser uma grande empresária. O talento ela tinha, o apoio obteve, mas todo sucesso veio com muita persistência e resiliência.

“Eu acredito que tudo começou pelas necessidades do dia a dia. Primeiro que eu tinha três filhos pequenos e eu não queria ser apenas uma dona de casa que fosse pedir algo para o meu marido. Eu achei necessário trabalhar, para não faltar nada para meus filhos. Foi o primeiro passo, nunca planejei ser empreendedora, até hoje eu quero entender qual a minha missão aqui na Terra. Eu amo fazer bolo, eu amo culinária, eu amo cozinha, eu amo eu amo ser pizzaiola, tudo que eu faço eu amo. Acredito que é importante as mulheres trabalharem, é importante as mães não deixar falta nada pros seus filhos, é importante a mente ocupada, é muito importante você se valorizar e você se posicionar também na sociedade, no seu bairro, na sua cidade, é muito importante todos os dias a gente acordar com a mentalidade de empreender, de ganhar, de lutar e principalmente fazer o que gosta”, comenta emocionada.

“A nossa família, que era assim, muito humilde, com muitos problemas, mas a garra da nossa família de ser empreendedor, de ser algo grande. Eu acho que já vem de dentro da gente, porque nossos pais, nossos pais são idosos, mas eu vejo meu pai sonhando no futuro melhor, ele tem 78 anos, ele sonha ainda de ter um futuro brilhante. A minha mãe sonha em ter um futuro brilhante. Então, se nós temos uns pais que sonham, que falam dos seus sonhos, a gente cresce sonhando, acho que mais do que ele, porque nós somos novos e temos a capacidade de pensar”, completa Domingas.

Foto: ReproduçãoMensagem de Domingas
Mensagem de Domingas

DO CAMPO AO TOPO
A família foi contagiada com o espírito do empreendedorismo. Francisco Reis, que hoje é CEO de uma empresa conceituada no ramo de móveis planejados comenta a trajetória de sucesso que começou com muita dificuldade.

“A gente trabalhava na roça e eu queria vir para a cidade para tirar uma habilitação. Na época tinha alguns motoristas de transporte coletivo lá e a gente achava o máximo as pessoas dirigirem. Então era um grande sonho de vir para a capital para tirar essa habilitação, além de estudar. E aí, quando chegamos aqui, procuramos emprego. Acabei iniciando em uma marcenaria como auxiliar e eu trabalhei bastante tempo na questão de montagem. Isso facilitou eu ter uma visão de um todo e também em contato com o cliente. Isso me ajudou muito em ter noção de todos os processos de uma marcenaria”, conta Reis.

Foto: Jhone Sousa / Conecta PiauíFrancisco Reis
Francisco Reis

Ele constatou que precisava atender os clientes com maior qualidade dos serviços e por isso decidiu sair da empresa que trabalhava e abrir a sua própria oficina. O começo foi difícil, ele tinha um espaço pequeno e pouco para investir, mas estava focado em oferecer o melhor serviço.

“Consegui comprar um maquinário e comecei a dar o pontapé inicial. Os clientes que a gente ia atendendo, a gente ia oferecendo um atendimento melhor, a gente atendendo com um produto melhor, um ia indicando o outro e isso foi fazendo com que a nossa cartela de clientes fosse aumentando, a gente foi crescendo. Aí investimos em terreno e maquinários e isso nos possibilitou um crescimento bem rápido, em 2008 quando iniciamos, e aí em 2011 formalizamos”, completa.

EMPREENDEDORISMO PARA SOCIEDADE
Mais uma vez o Sebrae entra na história. Reis explica que o serviço foi essencial para qualificação da empresa e inovação.

“O contato com o Sebrae facilitou em muito os processos e o desenvolvimento para o maior crescimento mais rápido. O Sebrae tem uma grande importância porque a partir do momento que a gente teve esse contato com o Sebrae, a gente passou a ter consultorias, treinamentos e algumas implantações dentro da fábrica. Como tem algumas consultorias que são in loco, possibilitou a gente também fazer viagens, feiras e conhecer novos mercados”, disse.

Foto: Jhone Sousa / Conecta PiauíManoel, um dos filhos de Maria, e sua equipe, em evento do Sebrae
Manoel, um dos filhos de Maria, e sua equipe, em evento do Sebrae

Além de um leque de oportunidades, o Sebrae permitiu a abrir a visão para outras partes importantes para a sociedade, como a qualificação da mão de obra local, como uma forma de trabalho social.

“Todos os nossos funcionários hoje foram treinados pela nossa empresa na comunidade, a gente abre essa oportunidade para treinar e ensinar pessoas da comunidade, do bairro, para que eles tenham a oportunidade, muitos deles ali, para ter o primeiro emprego, para ter a primeira oportunidade de trabalho. Isso tem contribuído muito com a nossa empresa e também a empresa com a nossa sociedade”, completa o empresário.

SUSTENTABILIDADE E COP 30
Mais do que lucros e o desenvolvimento social nas áreas em que atuam, as empresas da família Conceição estão preocupadas com o meio ambiente. A realização da COP 30 no Brasil, em 2025, representa uma oportunidade histórica para o país assumir protagonismo nas discussões globais sobre as mudanças climáticas e a sustentabilidade. Com a conferência sediada em Belém do Pará, no coração da Amazônia, aumenta a responsabilidade das empresas brasileiras em adotar práticas mais sustentáveis e transparentes.

Nesse contexto, torna-se imprescindível que o setor empresarial reforce seu compromisso com a preservação do meio ambiente, adotando políticas eficazes de redução de emissões, uso consciente de recursos naturais e investimentos em inovação verde.

Foto: ReproduçãoReis em visita ao Pará, numa empresa que promove a sustentabilidade
Reis em visita ao Pará, numa empresa que promove a sustentabilidade

“Tenho parentes no Pará, visito bastante o Pará, temos fornecedores lá, já fiz visitas aos fornecedores e buscamos a preocupação também com isso. Isso traz uma importância porque a gente não busca somente a lucratividade, a gente busca um bem-estar empresarial, um bem-estar da sociedade e também com o nosso futuro, cuidando do meio ambiente. A gente tem que estar preocupado com isso, visando um futuro melhor para toda a cadeia, para toda a sociedade”, completa Reis.

RECADO PARA O FUTURO
Dona Maria segue orgulhosa, mas um orgulho do jeito bom, aquele que dá felicidade, e manda um recado:

“Digo para minha família que eu desejo tudo de bom para eles e muitas maravilhas para eles e que eles tenham um bom pensar como de sempre, um bom moral como de sempre, um bom trabalho, uma boa vida, uma boa sorte. Agradeço muito a Deus, a minha família e tudo de bom para eles. É o que eu mais desejo, tudo de Deus, que Deus ilumine os caminhos deles e eles continuem a vida como de sempre. Tudo trabalhador, tudo de bom coração. E peço a Deus que eles consigam, sigam no caminho que eles estão, sempre amando, trabalhando, vivendo com aquela boa vontade”, conclui dona Maria.

Foto: Jhone Sousa / Conecta PiauíDona Maria
Dona Maria

Comente