Exclusivo: vítima dá detalhes do 'Golpe do Chico' e o envolvimento de deputado
Segundo as vítimas, o golpe pode ter movimentado mais de R$ 100 milhões e lesado dezenas de pessoasUma trama complexa e milionária envolvendo promessas de investimentos com alta rentabilidade, festas luxuosas e a suposta participação de um deputado. Esse é o retrato do chamado ‘Golpe do Chico’, um esquema que teria sido comandado por Francisco das Chagas Chaves da Silva, mais conhecido como Chico, responsável pela empresa Xtreme Trader e organizador de eventos como o ‘Pagode do Chico’.

Segundo as vítimas, o golpe pode ter movimentado mais de R$ 100 milhões e lesado dezenas de pessoas, entre empresários, profissionais liberais e investidores comuns, muitos dos quais comprometeram economias, venderam bens e até fizeram empréstimos com agiotas para participar da suposta ‘oportunidade’. O envolvimento de um deputado na trama, ainda não oficialmente investigado, levanta suspeitas e revolta entre os atingidos.
Chico fez vítimas especialmente em Teresina e Timon (MA), onde tinha uma loja no shopping da cidade. Mas sua atuação alcança outras cidades e estados. A seguir, o Conecta Piauí publica o depoimento exclusivo de uma das vítimas.
ATRAÇÃO DE INVESTIDORES
Conheci por indicação de amigo que já investia. O lucro seria 10% em cima do capital investido ao mês. E de três em três meses tinha umas alavancagens. Que ninguém poderia retirar nada nesse período de três meses com o intuito de duplicar o capital com taxas de quase 35%. Seria como se eu tivesse colocado R$ 100 mil. Tiraria R$ 10 mil por mês e o valor que ele continuava trabalhando em cima dos R$ 100 mil ficava pra ele”, afirmou.

Segundo a vítima, o esquema operava com pagamentos pontuais até o fim de 2024, o que gerou uma falsa sensação de segurança entre os investidores.
"Vinha dando certo o ano passado todo. Até fevereiro desse ano que os pagamentos seriam em março que começaram atrasar e não depositar o valor total que os investidores pediam".
Além dos aportes em dinheiro, muitos também usavam cartões de crédito para ‘investir’, o que gerou endividamentos em cadeia:
"Fora os cartões de crédito que também passava com a mesma taxa de 10%. Até dezembro era a empresa do Chico quem pagava as parcelas dos cartões... Em janeiro desse ano foi que ele mudou e os próprios investidores começaram a pagar suas parcelas", disse.
A maquininha usada, diz, estava registrada em nome de VVS Produções.

SILÊNCIO SUSPEITO E LIGAÇÃO COM POLÍTICO
O ponto mais sensível do depoimento está na possível participação de um deputado, que seria amigo íntimo de Chico, segundo a vítima. "Desde ano passado que investidores tentam retirar seus capitais. E somente o deputado conseguiu retirar 100%. Tão estranhando é isso. E se ele não tem culpa, por que ele não alertou os demais? Por que se calou e deixou todo mundo cair?"
O parlamentar era citado com frequência nos grupos e reuniões. "No grupo todos sabem que o Chico era muito amigo do deputado, de passar dias em sua casa. Postava fotos na casa dele operando e tudo. Chico sempre falava do deputado, que fazia parte do grupo de investidores. Isso que dava mais segurança pro negócio. Isso também influenciava a captação de mais investidores", disse.

AMEAÇAS E FUGA
A vítima relata que uma pessoa que atuava na empresa que tentou alertar os demais investidores, mas teria sido ameaçado. "Ele avisou que o Francisco falou com ele, ameaçou ele, devolveu o dinheiro dele. E ameaçou ele dizendo que se ele contasse pra alguém, ele ia mandar matar ele, essas são as informações que a gente recebe direto. Aí ele até saiu da cidade".
Chico também teria vendido casas, esvaziado as lojas e desaparecido. O motivo? Estaria tentando, supostamente, escapar de ameaças de agiotas e faccionados que também teriam investido no esquema.
LUXO, CURSOS E FESTAS COMO ISCA
O depoimento também detalha a estrutura montada para dar credibilidade ao golpe: cursos de trader, eventos festivos com placas de milionários, entrega de prêmios e até propostas de sociedade com políticos em empreendimentos como um resort.
"Ele promovia várias festas para os investidores.... Entregava placas de um milhão... O objetivo de todo mundo era chegar a um milhão para poder receber a placa. Tinha curso de trader, que a gente pagava e parecia tudo sério. Ele falava que o deputado estava chamando ele para ser sócio em um resort. Dava a entender que estavam juntos em várias frentes", completa.
ACORDO PROPOSTO E REVOLTA
Após o colapso do esquema, Chico teria tentado firmar um acordo judicial oferecendo o pagamento de R$ 700 mensais a algumas vítimas, o que gerou indignação. "Nem parcela de cartão cobre. E ele tá querendo se livrar disso. Está procurando um advogado bom para tentar se safar".

GOLPE PODE ULTRAPASSAR R$ 100 MILHÕES
"Eu nem chegou a investir muito, comparado aos outro, mas o mínimo lá para investir sozinho era 100 mil. Tinha gente com 1 milhão, 2 milhões, 3 milhões. A média era de 700 mil cada um. Isso aí beira 100 milhões". Segundo a vítima, cerca de 300 investidores estariam no grupo, muitos dos quais usaram dinheiro de terceiros, empréstimos ou recursos de agiotas perigosos.
"Teve gente que vendeu tudo: casa, carro. Muita gente usou dinheiro de faccionados barra pesada. Tem gente só esperando ele pra matar", afirma a vítima.
PRÓXIMOS PASSOS
As vítimas estão se organizando para acionar Chico judicialmente e aguardam respostas das autoridades. Ainda não se tem informações sobre o seu paradeiro e a polícia investiga o caso. O nome do deputado citado informalmente ainda não foi oficialmente investigado, mas a pressão por esclarecimentos cresce nas redes sociais e grupos privados.
O Conecta Piauí tentou contato com a defesa de Francisco, mas não foi possível obter esclarecimentos. O espaço segue aberto para manifestação.