Em uma década, mais de 5 mil bebês nasceram de mães com até 14 anos no Piauí
Entre 2013 e 2023, mais de 232 mil bebês nasceram no país de mães com no máximo 14 anosA gravidez na adolescência segue como um desafio crítico no Brasil, trazendo impactos profundos para o futuro das jovens mães e de seus filhos. No Piauí, o cenário reflete essa realidade. Em uma década, 5.057 bebês nasceram de mães com até 14 anos de idade, uma média de três nascimentos a cada dois dias.

Os dados são do Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam 2025), divulgado nesta semana pelo Ministério das Mulheres. O levantamento aponta que, entre 2013 e 2023, mais de 232 mil bebês nasceram no país de mães com no máximo 14 anos, representando 11,9% dos nascimentos no período.
O estudo, conduzido pelo Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, revela que o Nordeste concentra 14,4% desses partos, ficando atrás apenas da região Norte, que lidera com 19,4%. Em 2023, quase 14 mil bebês nasceram de mães nessa faixa etária no país, sendo 292 casos apenas no Piauí.
Além dos riscos à saúde da gestante, a pesquisa destaca que a gravidez precoce está frequentemente ligada à exclusão social e ao aumento da vulnerabilidade econômica. O relatório também enfatiza um aspecto legal crucial: no Brasil, qualquer relação sexual com meninas de até 14 anos é considerada estupro de vulnerável.
"A gravidez na infância e na adolescência não é apenas uma questão de saúde pública ou de falta de acesso à educação sexual. É também resultado da interseção brutal entre a cultura do estupro, da pedofilia e da misoginia presentes na sociedade", aponta o relatório.
Apesar do cenário preocupante, há um dado positivo: ao longo da última década, o número de meninas de até 14 anos que deram à luz caiu 50,2% na média nacional. No Piauí, a redução foi ainda mais expressiva, ultrapassando 80%. O estado passou de 548 nascimentos em 2013 para 292 em 2023, uma queda de 256 casos. O menor número foi registrado em 2022, com 285 partos.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, chamou atenção para a relação entre a gravidez precoce e a violência sexual. “É muito assustador o cenário de violência sexual contra meninas no Brasil, e temos visto um crescimento desse crime, principalmente entre crianças de 0 a 9 anos. Muitas dessas violações ocorrem dentro de casa, cometidas por familiares — pai, irmão, tio, avô”, afirmou.
A redução dos casos de gravidez precoce indica avanços, mas os números ainda acendem um alerta. Especialistas reforçam a necessidade de políticas públicas eficazes, educação sexual e proteção às meninas em situação de vulnerabilidade.