O amor dorme?
Se o amor acordar, tomara que faça um lindo diaDesde que me entendo por gente, me dispus a correr a maratona do amor. Sim, maratona. Porque o amor exige. Exige esforço, dedicação, rega diária. E não tem pódio de chegada. Porque não dá pra parar de correr. (Spoiler: até quem ama precisa de tênis confortável e água de coco emocional no caminho.)
Mas como essa pegada de maratona, eu me pergunto: será que o amor dorme? Será que, ás vezes, ele precisa de um descanso? Será que ele pode ficar ali, escondido nas entranhas da mágoa, da incerteza… e despertar mais disposto depois de um cochilo profundo, como se tivesse feito um retiro espiritual nas Maldivas?

Ultimamente, eu, que sempre fui da linha de frente da corrida, parei. Dei um tempo da maratona. Cansei. Mas como boa atleta que sou, deixei a porta aberta. Porque, vai que o amor acorda (se é que ele dorme) e resolve voltar. Mesmo que eu já tenha saído, ele vai poder entrar.
As janelas também estão escancaradas para que, apesar de adormecido, o amor respire o mundo aqui fora. Vai que ele entende que, mesmo com bilhões de estrelas nascendo todos os dias no universo, é na troca que as constelações brilham?!
Se o amor acordar, tomara que faça um lindo dia. Tomara que o sol esteja com a playlist pronta, chamando pra dançar. E que o amor se deixe abraçar pela luz que o mundo, muitas vezes, tenta apagar da gente.
Eu deixo a porta aberta pra ele. Mas deixo pra mim também. Não como quem quer fugir, mas como quem reconhece que voltar a correr pode ser bonito. Ainda que existam outros caminhos… sinceramente, não me interessam.
O que eu acredito de fato é que tem amor que espera. Tem amor que cochila (tem?!). Tem amor que vibra, que sente, que se irrita. E tem amor que já pediu cancelamento via aplicativo, mas esqueceu de clicar em “confirmar”. O que não tem é amor sozinho. É estranho tentar enxergar resquícios e não reconhecer nem o olhar. Falta diálogo, sobram expectativas. E mágoas se empilham fazendo crescer muro de arrimo emocional.
Mas de quem é a culpa? É do amor preguiçoso, que resolveu fazer a egípcia e fingir que tá em transe? Talvez a resposta esteja nas pequenas desistências que a gente vai fazendo ao longo do caminho. Porque às vezes, não importa o quanto você grite: o silêncio já criou raízes. E o afastamento deixa de ser escolha. Vira sobra.
E assim, seguem os amores imperfeitos: lado a lado, mas sozinhos. Como duas linhas paralelas que nunca se encontram. E o que se vê por fora não dá conta do que pulsa por dentro.
Fica aqui um desejo sincero: que os amores despertem. Se reencontrem. Sorriam. Porque todo mundo merece existir por inteiro.
E eu? Eu ainda quero correr. Com tênis confortável, playlist das boas e um amor desperto. Porque tanto no amor, como na corrida, o melhor passo é sempre o que se dá junto.
PS: Minha dica pra quem chegou até o fim: “Yoko”, da banda Terno Rei. Uma música que, assim como esse texto, sussurra mais do que grita. Ah! Essa banda é um caminho sem volta.