É Permitido Sentir (e Falar Sobre Isso)
No nosso mundo frenético, falar sobre sentimentos parece fora de lugar“O preço de não questionar suas angústias é a própria liberdade.” A frase é uma adaptação de um pensamento de Jean-Paul Sartre, um dos principais expoentes do existencialismo. Não, não fui ler Sartre hoje, nem me debrucei sobre o tema. Vi essa frase no Instagram logo cedo e me inspirei. Inspirei-me na frase e numa grande amiga que, muitas vezes, já me disse: “Olha, tu não escreve pensando em mim, porque eu vou saber!” Pois bem, estou pensando em você, amiga.
Como todas as pessoas, eu sou rotulada, e isso não é necessariamente pejorativo. Rotulamos porque é assim que funciona. Sou “a que sente demais, ama demais, chora demais”. Tenho “as tripas furadas” e me “ressinto por qualquer coisinha”. É o que dizem. E quem tem fama... deita na cama, né? Não costumo colecionar angústias. Mas também sei que expressar o que se sente não é apenas abrir a torneira das palavras sem filtro. É um caminhar sobre vidro, porque o que sai da boca carrega a alma do outro também. Porém, nem todo mundo está disposto a ter relações assim.

No nosso mundo frenético, falar sobre sentimentos parece fora de lugar. A cultura do “fazer e esquecer” e a valorização da racionalidade em detrimento das emoções têm transformado as conversas sobre relacionamentos em sinônimos de drama, quando, na verdade, esses diálogos são espaços de conexão. Vivemos para o presente, com pressa. E a questão é: faz sentido silenciar uma dor só para continuar funcionando no automático?
A gente aprende a engolir o choro, a fingir que está tudo bem, a ignorar o incômodo, como se calar a angústia fosse solução. Mas toda dor ignorada vira nó. E cada nó que a gente não desfaz, nos prende um pouco mais. Questionar angústias não é fraqueza. É coragem. É o início de um caminho de escuta, cuidado e, acima de tudo, liberdade.
A angústia é um afeto que não mente. Já tive perdas por ouvir o som da angústia e dar voz à minha dor. Relações foram impactadas. Nem todo mundo está disposto. Normal. E é aí que mora o dilema de tantos: Dar voz ao que sentimos ou não?
O fato é que somos livres. E ser livre é ser responsável. É carregar o peso do que queremos e do que decidimos deixar para trás. É o preço de estar desperto em um mundo sem garantias. Mas também é um sinal de que ainda há caminhos e escolhas a serem feitas. Boas ou más. Estamos vivos!
Talvez, minha amiga, a liberdade que você tanto procura comece por aí: em se permitir sentir, entender e transformar aquilo que te atravessa. Porque, ainda que você tente ignorar, existe uma consciência latente que pulsa com vontade de existir.
P.S.: Se você chegou até aqui, fecha esse momento ouvindo “Mundo Melhor”, de Pixinguinha e Vinicius de Moraes. A letra é um lembrete suave e firme de que só faz sentido seguir se for pra seguir com o coração mais aberto.