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De tanto pensar, escrevi

Por Marcela Nogueira. Publicitária, pisciana raiz, mãe da Manuela e amante da arte — mesmo sem saber cantar, dançar ou tocar um instrumento. Intuitiva, criativa e intensa, vivo sentindo o mundo por dentro. Escrevo pra dar conta do que penso (e não digo), pra organizar o caos e, quem sabe, encontrar sentido nas entrelinhas do cotidiano.

Enquanto o mundo corre

Reflexões sobre pausa, dor e esperança enquanto a vida segue lá fora
De tanto pensar, escrevi

Da janela do hospital, abro a cortina pra deixar o sol entrar. E ele invade o quarto, iluminando tudo o que contrasta com o que sinto aqui dentro. Da janela do hospital, vejo a área de lazer de um prédio vizinho: vizinhas conversam, crianças correm no gramado, alguém ri ao celular. Os carros passam, apressados, como quem não se importa.

Como assim? Como pode o mundo seguir tão alheio se meu pai está aqui, nessa mialgia medonha? (Aprendi essa palavra aqui. Um jeito médico de dizer “dor no corpo todim”.)

Como é que a vida continua, se estamos aqui parados no caos? Como é que tudo parece normal, se eu tô apavorada e sem ideia do que vai acontecer?

Foto: Imagem gerada por IAEnquanto o mundo corre
Enquanto o mundo corre

Vai dar certo. Vai dar ruim. Vai dar certo. Vai dar ruim. Alterno esses dois pensamentos como criança brincando de “vivo ou morto”. E mudo de estado de espírito com a velocidade de um vídeo do TikTok. Em poucos minutos, vou do desespero absoluto à fé inabalável de uma beata de novena.

Enquanto faço companhia pro meu pai, na madrugada interminável deste hotel que ninguém deseja se hospedar, deixo o pensamento andar solto pelos corredores. O passado e o agora me acompanham até o bebedouro. E eu rio. E choro. Como se estivesse descompensada. (E talvez esteja mesmo, quem não estaria?)

É que há eventos na vida que mudam a gente irremediavelmente. Intervalos que viram atos. Cenas que ganham importância de desfecho. Não dá pra dar “pause” sem mexer no “play”. Até porque o “pause” nem funciona.

Do lado de fora, tudo continua: as mulheres seguem conversando na área de lazer, as crianças continuam correndo, os carros passam apressados. Apesar de tudo parecer nublado. Pelo menos pra mim.

“O tempo não para”, já dizia Cazuza. O trabalho continua exigindo, as provas escolares seguem normalmente, as compras do supermercado continuam não rendendo nada!

E, nos cinco minutos de fé beata que me restam antes do pânico tomar conta de novo, eu respiro fundo e jogo pro universo mais um verso de Cazuza: "Ainda estão rolando os dados!"

No fim desses quatro longos dias que mais parecem uma eternidade, penso nas pessoas e nas trajetórias que me inspiram a continuar. Naqueles que, só de existirem, preenchem a vida de sentido, mesmo quando o bicho pega.

Porque a vida vai ser sempre assim: horrível e maravilhosa, terrível e gloriosa.
Mas há quem faça valer.

E que o equilíbrio entre as horas boas e as horas como essas esteja sempre, sempre, a nosso favor.

PS: A trilha desses dias é “Tudo Novo de Novo”, do Paulinho Moska. Porque, mesmo nas pausas forçadas da vida, é preciso coragem pra seguir. E leveza pra recomeçar, por dentro.

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