Ciro finge indignação com corrupção, mas vive cercado por suspeitas milionárias
Ex-ministro de Bolsonaro, senador virou símbolo do oportunismo político e da hipocrisiaO senador Ciro Nogueira (PP-PI), uma das principais lideranças do Centrão, tem se apresentado como um crítico feroz do governo Lula e defensor da moralidade pública. No entanto, sua trajetória é marcada por uma série de denúncias, investigações e episódios suspeitos que desafiam o discurso anticorrupção que passou a adotar desde que se alinhou ao bolsonarismo.

Levantamento minucioso publicado pela Revista Fórum expõe nove grandes frentes de escândalos envolvendo o nome do senador piauiense. A lista inclui desde os tempos da Lava Jato até episódios mais recentes ligados à CPI das Bets, passando por uso de verba pública em jatinhos particulares, articulações no orçamento secreto e negócios familiares suspeitos.
Na Operação Lava Jato, Ciro foi acusado de receber R$ 7,3 milhões em propinas da Odebrecht entre 2014 e 2015, por meio de codinomes como “Piqui” e “Cerrado”. Em outro caso, delatores da UTC Engenharia relataram que ele pediu R$ 2 milhões para facilitar contratos com o governo. Também foi acusado de tentar obstruir a Justiça no chamado “Quadrilhão do PP”, supostamente subornando uma testemunha para alterar depoimentos que poderiam incriminá-lo. Nenhuma dessas investigações resultou em condenação judicial, muitas delas arquivadas por decisões do STF.
O senador também foi citado em investigações envolvendo as empreiteiras OAS e Engevix, suspeito de intermediar liberação de recursos em troca de vantagens financeiras. Mais recentemente, seu nome apareceu na CPI das Bets, após revelações de que viajou em jato particular pertencente a Fernando Oliveira Lima, dono de site de apostas online. No mesmo período, um ex-assessor de Ciro recebeu R$ 625 mil de Fernandin, oficialmente pela venda de um relógio de luxo, mas que, na prática, repassou parte do valor para a conta pessoal do senador.

Fora dos escândalos diretamente ligados a empreiteiras e empresários, Ciro também se destacou pelo uso recorrente de recursos públicos para custear luxos. Entre 2019 e 2021, gastou mais de R$ 580 mil em combustível de aeronaves. Em 2023, durante o recesso, usou mais de R$ 53 mil da cota parlamentar para abastecer um avião particular. Os gastos se repetiram em 2024 e 2025, em um aeródromo ligado a outro político do Centrão, com notas fiscais consideradas opacas.
A família Nogueira também não ficou de fora dos gastos questionáveis. Eliane Nogueira, mãe de Ciro e sua suplente no Senado, usou verba pública para abastecer aviões, mesmo sem declarar posse de aeronaves. Depois, passou a alugar veículos de luxo com recursos do Senado, com despesas mensais de até R$ 15 mil.
Outro ponto levantado pela Fórum envolve a empresa da família, Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis. A companhia teria vendido imóveis para o mesmo empresário das apostas online por valores muito acima do mercado. Em um dos casos, uma sala comercial comprada por R$ 3,7 milhões foi revendida em apenas três meses por R$ 7 milhões, levantando suspeitas de possível lavagem de dinheiro.

Mesmo com esse histórico robusto de investigações e acusações, Ciro Nogueira nunca foi condenado. Ainda assim, construiu a imagem de “fiscal da moralidade” na era Bolsonaro, discursando contra a corrupção e atacando o governo Lula, que no passado o ajudou a impulsionar sua carreira. Para críticos e bastidores do Congresso, trata-se de um moralista de ocasião — um político que molda seu discurso conforme os ventos do poder e sobrevive na política brasileira não pela coerência, mas pela conveniência.