Planos de saúde que negaram atendimento a autistas são multados em R$ 105 mil cada
Negativa de cobertura em casos como este fere diretamente os princípios de dignidade humanaO Ministério Público do Estado do Piauí (MPPI), por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, manteve multa de R$ 105.555,56 contra três operadoras de planos de saúde por negativa de cobertura para terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada) destinada a uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No total, a multa aos três planos de saúde somam R$ 316 mil.

A penalidade, de caráter exemplificativo, foi aplicada às empresas Humana Assistência Médica Ltda., Hospitais e Clínicas do Piauí S/S Ltda. (Intermed) e Unimed Teresina. A Hapvida Assistência Médica Ltda. foi excluída do processo por falta de notificação no início do procedimento e a Medplan não recorreu da multa. A decisão se deu após denúncia da Associação Prismas, que representa famílias de pessoas com autismo.
Segundo o MPPI, as operadoras se recusaram a custear integralmente o tratamento, incluindo as sessões de acompanhamento e intervenção de profissionais especializados, apesar da indicação médica e da necessidade comprovada do paciente. A negativa foi considerada afronta direta ao Código de Defesa do Consumidor (art. 6º, incisos I e IV, e art. 14), bem como descumprimento das diretrizes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e da Lei nº 12.764/2012, que assegura direitos à pessoa com TEA.
A decisão foi confirmada pela Junta Recursal do PROCON/MPPI, que entendeu que as empresas impuseram barreiras abusivas ao acesso ao tratamento, configurando violação a direitos fundamentais do consumidor.
O processo teve como relatora a promotora de justiça Gilvânia Alves Viana, que reforçou que a negativa de cobertura em casos como este fere diretamente os princípios de dignidade da pessoa humana, proteção integral da criança e a boa-fé nas relações de consumo.
Com a decisão, as empresas deverão arcar com o pagamento da multa e garantir o cumprimento das coberturas previstas pela legislação e normas da ANS, sob pena de novas sanções.
Ao Conecta Piauí, a coordenadora-geral da Associação Prismas, Elisângela Oliveira, comentou a luta que as famílias tiveram para que esses direitos fossem garantidos.
“Nós da Associação Prismas trabalhamos intensivamente para garantir o direito da pessoa com autismo, com deficiência, e temos sim, no Ministério Público, uma ferramenta dessa garantia do direito. Nós procuramos o PROCON para que essa garantia acontecesse, que é o acesso às terapias, especificamente as terapias em para as pessoas com TEA. Esse processo foi sancionado, foi instaurado devido a várias denúncias dessas práticas abusivas pelo plano de saúde e é louvável ver que os promotores, a promotora, os relatores viram, estudaram, entenderam que são práticas abusivas sim, e que essas pessoas que necessitam as terapias possam ter acesso”, disse.

“Porque é uma garantia do consumidor e nós temos esses órgãos a quem procurar. Graças a Deus a gente não está à mercê da ganância dos plantes saúde. Eles têm sim que seguir a legislação e nossa associação está nessa luta. Faz tempo que a gente briga com isso aí, a gente começou a brigar com os planos de saúde, a gente ainda estava na pandemia. Depois disso, a gente ainda foi à Brasília, a gente ainda se acorrentou, a gente teve tanta confusão para chegar nisso ai”, conclui Elisângela Oliveira.
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