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Piauí tem 4º maior índice de morte violenta de população LGBTIQAPN+ do Nordeste

Segundo os dados, com as quatro mortes de 2023, o Piauí ficou com uma grande densidade
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Quatro pessoas LGBTIQAPN+ foram assassinadas ano passado no Piauí, conforme aponta o dossiê do Observatório de Mortes e Violências contra essa parcela da população. O número é o mesmo registrado em 2022. Entretanto, quando é feita a proporção de mortes pelo número de habitantes, o índice piauiense saltou da penúltima para a quarta posição entre os nove estados nordestinos. 

Foto: Benson Kua/CC BY-SA 2.0/Wikimedia CommonsPiauí tem 4º maior índice de morte violenta de população LGBT do Nordeste
Piauí tem 4º maior índice de morte violenta de população LGBT do Nordeste

Segundo os dados, com as quatro mortes de 2023, o Piauí ficou com uma densidade de 1,22 mortes a cada grupo de um milhão de pessoas, ficando atrás apenas da Paraíba (1,73), de Alagoas (2,56) e do Ceará (2,73). Esses dois últimos, também, compõem os cinco maiores índices, que contam ainda com Rondônia (2,53), Amazonas (2,28) e Mato Grosso do Sul (3,26), estados que têm a maior proporção.  

Foto: Conecta PiauíPiauí tem 4º maior índice de morte violenta de população LGBT do Nordeste
Piauí tem 4º maior índice de morte violenta de população LGBT do Nordeste

Já em números absolutos, o Piauí fica em uma posição intermediária no ranking nacional, junto com Distrito Federal e Rondônia. São Paulo (27), Ceará (24), Rio de Janeiro (24) e Minas Gerais (19) são os quatro estados onde mais se mata essa população no país. Todos os estados registraram pelo menos uma morte LGBT em 2023. E nesta sexta-feira, dia 17 de maio, é celebrado o Dia Internacional da Luta Contra a LGBTfobia. 

O documento aponta ainda que em 2023, ao todo, morreram de forma violenta no país 230 pessoas LGBTI. O número equivale a uma morte a cada 38 horas. Dessas mortes, 184 foram assassinatos, 18 suicídios e 28 por outras causas. A sigla diz respeito a pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens trans, pessoas transmasculinas, não binárias e demais dissidências sexuais e de gênero. 

Foto: Conecta PiauíQuatro pessoas LGBTIQAPN+ foram assassinadas ano passado no Piauí, conforme aponta o dossiê
Quatro pessoas LGBTIQAPN+ foram assassinadas ano passado no Piauí, conforme aponta o dossiê

Para Marinalva Santana, do Matizes, grupo de luta por direitos a essa parcela da população no estado, o número de casos não reflete a realidade e faltam políticas públicas de prevenção e atuação nesses casos. "Há muita subnotificação, inclusive porque o Piauí não dispõe de um serviço de denúncia", afirmou. Das quatro mortes do Piauí, foram registradas duas em Teresina e duas na cidade de Parnaíba, no litoral. 

Protocolo LGBTQIAPN+

Diante desses números, e após várias reuniões de grupos da causa, entres eles o Matizes, inclusive, com a cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Estado, ações foram adotadas. Foi lançado o protocolo LGBTQIAPN+, com orientações às forças de segurança sobre a abordagem dessa população; o disque cidadania LGBTQIAPN+, criada uma coordenadoria para tratar sobre o tema e realizadas campanhas de conscientização. 

Foto: Ministério PúblicoQuatro pessoas LGBTIQAPN+ foram assassinadas ano passado no Piauí, conforme aponta o dossiê
Quatro pessoas LGBTIQAPN+ foram assassinadas ano passado no Piauí, conforme aponta o dossiê

“Lançamos esse Disque Denúncia nos mesmos moldes que fizemos para as mulheres, que é o ‘Ei Mermã Não se Cale’, justamente para que, casado com esse protocolo, nós possamos ter um atendimento especializado. Os números de violência envolvendo essa população ainda são elevados. Vamos criminalizar e combater qualquer discurso de ódio que venha gerar descriminalização e violência”, pontuou Chico Lucas, secretário de segurança.  

Foto: Eduardo Amorim/Conecta PiauíSecretário de Segurança do Piauí, Chico Lucas
Secretário de Segurança do Piauí, Chico Lucas

De acordo com o superintendente de Cidadania e Defesa Social da SSP-PI, tenente-coronel Elizete Lima, a ferramenta tem como objetivo oferecer um atendimento rápido às chamadas de emergência relacionadas à violência contra a população LGBTQIAPN+.  O número (86) 99427-9902 ficará disponível 24 horas e irá encaminhar as chamadas para uma central que conta com profissionais capacitados. 

“Estamos com uma parceria com a SASC com a finalidade de dar uma atenção especial para a população LGBTQIAPN+, que eventualmente venha a ser vítima de algum tipo de violência e que necessite de atendimento policial. Iniciamos esse trabalho por Teresina, onde existe um maior número de ocorrências dessa natureza, mas a tendência é levar esse atendimento para o interior do Estado”, explicou a superintendente.  

O observatório desenvolveu uma metodologia própria ao longo dos anos, com a coleta de informações também em veículos de comunicação e redes sociais, levando em consideração a provável subnotificação dos casos às autoridades e a ausência de dados oficiais com esse recorte específico. 

“Como dependemos do reconhecimento da identidade de gênero e da orientação sexual das vítimas por parte dos veículos de comunicação que reportam as mortes, é possível que muitos casos de violências praticadas contra pessoas LGBTI+ sejam omitidos”, explica o observatório, em nota. 

A organização aponta ainda que muitas cidades não têm veículos de comunicação locais que reportem casos ocorridos, por exemplo, no interior do Brasil. A pesquisa de 2023 identificou diversos tipos de violência contra pessoas LGBT, como esfaqueamento, apedrejamento, asfixia, esquartejamento, negativas de fornecimento de serviços e tentativas de homicídio. As violências, destaca o dossiê, ocorreram em diferentes ambientes, como o doméstico, as vias públicas, cárcere, local de trabalho, entre outros.

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