Mais da metade das armas de fogo nas mãos de civis piauienses está irregular
O levantamento da Polícia Federal revela um arsenal de mais de 13,3 mil de armas irregularesLevantamento da Polícia Federal revela que um arsenal de mais de 13,3 mil de armas, muitas delas de grosso calibre, está nas mãos de civis piauienses em situação irregular, com o registro vencido. Esse número representa mais da metade (54,6%) de todas as armas de fogo cadastradas no órgão em nome de cidadãos comuns e servidores públicos - policiais e guardas municipais, que comprovem a necessidade de uso para defesa pessoal.

De acordo com a pesquisa, são 24.440 armas de fogo registradas em nome de civis no Piauí desde ano de 1965. Desse total, exatas 13.340 estão com o registro vencido e outras 68 tiveram a documentação cancelada. O levantamento não inclui as autorizações para armas dos CACs - colecionadores, atiradores desportivos e caçadores, sob responsabilidade do Exército.
Para renovar o certificado de registro de arma de fogo cadastrado na Polícia Federal, o proprietário não pode ter antecedentes criminais nem responder a inquérito policial ou processo criminal. Deve apresentar comprovação de trabalho e residência fixa; além de comprovar - novamente - capacidade para manusear a arma. Todo esse procedimento, que parece ser bem burocrático, é defendido perlo instrutor de tiro Hilton Burlamaqui.
Info:
- Estado - % de irregulares
- Ceará – 62,3%
- Sergipe – 58,9%
- Rio Grande do Norte – 58%
- Paraíba – 55%
- Piauí – 54,6%
- Maranhão – 53,9%
- Bahia – 49,9%
- alagoas – 49,8%
- Brasil – 55,9%
“Eu não acredito que esse termo burocracia seja correto, já que toda essa exigência que é feita pela legislação pode ser cumprida. Então, acho que se a pessoa não vai fazer a renovação é porque a arma já era irregular, sofreu algum dano ou foi extraviada ou roubada”, pontuou Burlarmaqui, destacando que é primordial que a pessoa tenha capacitação técnica. “O cidadão tem que saber das regras de segurança para poder utilizar a arma, caso precise”.
Quando o registro perde a validade, o dono da arma é notificado pela Polícia Federal. Ele tem até 60 dias para decidir pela renovação, a transferência da arma para uma pessoa habilitada ou entregá-la para a campanha do desarmamento. Caso não atenda à notificação, a PF abre um processo de cassação do registro, que também pode levar à apreensão da arma. No Brasil, são mais de 1,5 milhão de armas nessa situação.
Porém, muitas dessas medidas já foram questionadas na Justiça. Há quatro anos, por exemplo, o STJ, que é o Superior Tribunal de Justiça, determinou que, ''uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa, que autoriza a apreensão do artefato e aplicação de multa.'' Ou seja, nesse caso o entendimento é que isso só se aplica a posse ilegal e não ao porte.
Para a Polícia Federal, essas decisões dificultam a fiscalização dos agentes no controle das armas com autorização vencida. Como a falta de renovação da licença não é mais considerada crime, a PF alega que o caminho até a apreensão da arma pode ser muito mais demorado. Se antes a polícia abria um inquérito e pedia à Justiça um mandato de busca, agora, isso só pode ser feito depois da conclusão do processo administrativo que seja favorável à cassação.
Ainda do levantamento, os dados mostram que menos de 700 mulheres tem o registro de posse no Piauí, o que representa menos de 3% do total armas cadastradas. Quanto ao calibre, o 38 é o mais presente no Estado, com quase 5,5 armas de fogo. Entre as espécies, destaque para as pistolas, quase 9,5 mil unidades, e para os fuzis, que mesmo tendo somente três em poder de civis, todos foram adquiridos recentemente e com registro ativo.