Receita aponta uso de postos no Piauí em esquema bilionário de fraude com o PCC
Segundo a investigação, entre 2020 e 2024, a facção movimentou mais de R$ 52 bilhõesO Piauí está entre os dez estados brasileiros onde a Receita Federal identificou postos de combustíveis utilizados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em um esquema bilionário de fraudes, adulteração e lavagem de dinheiro. A constatação faz parte da Operação Carbono Oculto, deflagrada nesta quinta-feira (28/08), considerada a maior ação de combate ao crime organizado já realizada no país no setor de combustíveis.

Segundo a investigação, entre 2020 e 2024, a facção movimentou mais de R$ 52 bilhões por meio de uma rede de postos, distribuidoras, importadoras, fintechs e fundos de investimento, causando prejuízos milionários ao fisco, aos consumidores e ao mercado. No estado, auditores-fiscais identificaram irregularidades em postos de combustíveis ligados à rede nacional investigada. Parte deles teria sido usada para movimentar valores ilícitos de forma disfarçada, por meio de recebimentos em dinheiro vivo ou em transações via maquininhas de cartão.
Outro dado revelado é que cerca de 140 postos em todo o país, incluindo o Piauí, não tiveram qualquer movimentação comercial entre 2020 e 2024, mas, mesmo assim, receberam mais de R$ 2 bilhões em notas fiscais simuladas. A suspeita é de que esses estabelecimentos tenham sido usados apenas como fachada para ocultar a origem dos recursos. No total, mais de R$ 891 milhões em autuações já foram formalizados pela Receita Federal contra os envolvidos.
A fraude, segundo os investigadores, começava com importadoras de combustíveis, que adquiriam no exterior produtos como nafta e hidrocarbonetos em nome de empresas ligadas ao PCC. O material era então distribuído e revendido por postos que, além de sonegarem tributos, também adulteravam gasolina com metanol, prática que traz riscos aos veículos e prejuízos diretos ao consumidor.

Para ocultar o dinheiro ilícito, o grupo utilizava fintechs de pagamento que funcionavam como verdadeiros “bancos paralelos”, movimentando bilhões sem a fiscalização devida. Só uma dessas instituições digitais teria operado mais de R$ 46 bilhões em quatro anos.
O dinheiro, depois de lavado, era blindado em fundos de investimento e aplicado na compra de bens de alto valor, como imóveis de luxo, fazendas, usinas de álcool e até um terminal portuário. A “Operação Carbono Oculto” cumpriu cerca de 350 mandados de busca e apreensão em oito estados, além de ações da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional que bloqueiam mais de R$ 1 bilhão em bens dos investigados.
A ação contou com a participação de aproximadamente 350 servidores da Receita Federal, além do Ministério Público de São Paulo (Gaeco), Ministério Público Federal, Polícia Federal, Polícias Civil e Militar, Secretaria da Fazenda e Planejamento de SP, Agência Nacional do Petróleo (ANP) e Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo.
De acordo com a Receita, o esquema permitiu ao crime organizado obter lucros elevados ao mesmo tempo em que causava danos aos cofres públicos e aos consumidores. A adulteração de combustíveis reduzia a qualidade dos produtos, enquanto a sonegação fiscal gerava concorrência desleal com empresários que atuam de forma regular no setor.