Deputado Josimar de Maranhãozinho fica em silêncio no STF sobre desvio de emendas
A medida adotada pelo parlamentar foi uma orientação da defesa técnicaO deputado do Partido Liberal (PL) Josimar Maranhãozinho (MA), réu por desvio de emendas no Supremo Tribunal Federal (STF), ficou em silêncio nesta quinta-feira (28/8) durante seu interrogatório no âmbito da ação penal que tramita na Corte contra ele e outras sete pessoas, incluindo outros dois parlamentares, por suposto desvio de emendas.

Maranhãozinho (PL-MA) compareceu no Supremo para prestar os esclarecimentos, mas optou por ficar calado diante do juiz auxiliar que comandava as oitivas.
A medida adotada pelo parlamentar foi uma orientação da defesa técnica, que alegou não ter tido acesso a todas as provas utilizadas pela denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Além de Maranhãozinho, também são réus o deputado Pastor Gil (PL-MA) e o suplente Bosco Costa (PL-SE). Pastor Gil optou por falar e negou as acusações. Ambos negaram as acusações que pesam contra eles.
As defesas de alguns dos réus chegaram a peticionar nos autos o pedido de adiamento dos interrogatórios, no entanto, o ministro Cristiano Zanin, relator do caso, negou, mantendo os interrogatórios nesta quinta (28).
“Não existe, enfatizo, impedimento à realização do ato processual já ordenado. A eventual inclusão aos autos de outros elementos probatórios cujo conteúdo ou amplitude, neste instante, é desconhecida, não tem o condão de obstar a realização dos interrogatórios”, afirmou em decisão.
A decisão veio depois da inclusão, na quarta-feira (27/8), de um comunicado da Polícia Federal (PF) no processo afirmando que disponibilizaria um laudo pericial ao STF dentro de três dias. Como resultado, as defesas dos réus passaram a pedir uma reconsideração da decisão do ministro, mas não foi acatado.
O primeiro a ser interrogado foi Maranhãozinho, apontado pela investigação como líder do esquema de desvios de verba pública. Ele afirmou que ficaria em silêncio até que houvesse mais esclarecimentos.
Segundo a PGR, entre janeiro e agosto de 2020, os parlamentares, com o apoio de outras pessoas, solicitaram ao prefeito Eudes Sampaio Nunes, de São José do Ribamar (MA), propina para liberação de recursos federais.
O valor do pedido, diz a PGR, foi de R$ 1,6 milhão para que fossem liberados R$ 6,6 milhões em emendas patrocinadas pelos deputados do PL.
Na sequência, Pastor Gil foi ouvido e disse que a acusação contra ele era “completamente falsa”. Bosco Costa, na mesma esteira, também negou, dizendo que ela “não é verdadeira”. Durante suas falas na oitiva, ambos disseram sequer conhecer algumas das pessoas citadas na denúncia.
Com relação à liberação de emendas, o deputado Gil negou que alguma vez teria cobrado dinheiro pela destinação de verba, e nem sabe de um comportamento similar por parte de Maranhãozinho. O mesmo foi alegado por Bosco Costa.
Ambos também foram questionados sobre um documento encontrado na casa de um dos denunciados que mencionava um suposto pagamento a eles. Segundo o Pastor Gil, a explicação está no “perfil de Pacovan”, que “usa o nome de outras pessoas” e era “mentiroso”.
“Então, eu posso dizer que isso aqui é um lixo, que é uma coisa falsa, que alguém fez. Eu não fiz aquilo, não tem nada meu. Isso aqui foi algo que usaram meu nome. Agora, alguém pegar isso aqui e me acusar, sem ter nada meu que comprove isso aqui, é uma leviandade”, afirmou.
Bosco Costa, por sua vez, disse nunca ter visto o documento. Questionado por que seu nome estava nele, disse que “não tenho ideia”.
Denúncia da PGR
Segundo a denúncia da PGR, foram enviadas três emendas para o município de São José do Ribamar, que totalizavam cerca de R$ 6,6 milhões. Tais emendas teriam sido destinadas pelos deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE), atualmente fora de exercício.
A PGR cita que Maranhãozinho seria o líder do esquema, e teria, além de destinado uma das emendas, coordenado o envio de outras duas. A alegação se dá com base em mensagens de WhatsApp trocadas com Pastor Gil em fins de 2019, quando Maranhãozinho disse para “deixar 1.048.000 para São José de Ribamar” – o que efetivamente ocorreu.
Já com Bosco Costa, a conversa também teria ocorrido em dezembro de 2019, quando Maranhãozinho determina que São José do Ribamar também fosse contemplada em uma lista de municípios habilitados a receber recursos de emendas parlamentares.
“Após o esforço do grupo para a autorização das emendas, de que faz prova as mensagens acima descritas, os recursos das duas primeiras (R$ 1.500.000,00 e R$ 4.123.000,00) são finalmente liberados em 30.12.2019. Os da terceira, no valor de R$ 1.048.000,00, algum tempo depois, em 22.4.2020”, diz a Procuradoria.
Segundo a acusação, a incumbência das cobranças foi entregue a Josival – o Pacovan -com quem Maranhãozinho já mantinha contato. Em uma mensagem obtida pela investigação, Pacovan sugere, inclusive, que se destine ao município “a maior quantidade possível de recursos”.
“Em outra conversa [com Pacovan], ocorrida em 22.1.2020, Josimar encaminha, a pedido de Pacovan, e para facilitar-lhe o trabalho, os detalhes das propostas das duas emendas que, naquele momento, já haviam sido liberadas”, diz a PGR.
A acusação da Procuradoria também trata do encontro de Pacovan com Eudes, acompanhado de Rocha Silva. A Procuradoria afirma que o agiota teria solicitado do então prefeito de São José do Ribamar a quantia de R$ 1,6 milhão, correspondente a cerca de 25% das três emendas destinadas ao município.
O montante, no entanto, não foi citado por Eudes durante o interrogatório.
Nesse mesmo dia, Pacovan, segundo a PGR, manda mensagem para Maranhãozinho dizendo que estava na prefeitura de Ribamar e questiona quem teria indicado os valores para a cidade.
Depois do insucesso das tentativas de extorsão, narra a Procuradoria, Maranhãozinho teriam agido pessoalmente para convencer o prefeito e Gil chegou a mandar mensagem à Eudes lhe sugerindo um encontro.
Por: Metrópoles